sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Tempos de Transição

Por conta do meu trabalho, lido no consultório com os problemas que as pessoas estão passando, mas também, no dia a dia, posso verificar as queixas de amigos e conhecidos sobre dificuldades de toda ordem, desde as materiais, problemas físicos, até as insatisfações com vida. São as questões políticas de nosso país, as guerras em outros, as novas doenças que surgem, o aumento incontrolável dos transtornos depressivos, as perdas financeiras, os conflitos afetivos. Não tenho uma estatística sobre isso, mas a impressão que trago é de um agravamento dessas angústias, acima do que se consideraria normal em relação a outros tempos.

Tenho convicções que me fazem acreditar que somos cuidados por forças maiores do que nós, e que poderiam estar, de alguma forma, provocando tal situação com um intuito especial. Mas também acredito na força da sincronicidade do inconsciente que, somando-se no inconsciente coletivo, tem o poder de criar realidades em função de nossas necessidades psicoespirituais.

Contudo, na verdade, não importa tanto o que possa estar causando tudo isso, mas a possibilidade de que tudo isso venha a produzir modificações em cada um de nós que nos facultem um amadurecimento para condições melhores de vida. E, quando digo condições melhores de vida, não me refiro apenas às nossas individualidades, mas à coletividade e ao planeta, já que estamos todos interligados em um sistema formando um campo que todos alimentam mas que repercute sobre as partes que o compõem.

O nosso modelo econômico atual, mais preocupado com a produtividade do que com as individualidades, tem estimulado nossos maiores interesses para o que está fora de nós, direcionando nossos desejos justamente para o material de consumo que ele tem por objetivo vender. Isso não precisaria ser um problema, não fosse a intensidade com que ele – o sistema – invade nossas mentes, das formas mais sub-reptícias possíveis, criando um olhar distorcido sobre aquilo que realmente é importante.

Não que tenhamos que abrir mão de uma vida material que se nos impõe ao nascermos em um planeta como o nosso, mas de significá-la dentro de um contexto maior de sermos espíritos reencarnantes.

Então, o que as dificuldades do presente têm feito é tirar um pouco o fascínio sobre as demandas externas, sobre prazeres que tendem a nos escravizar reprimindo a liberdade de gerenciar nossos destinos com objetivos mais condizentes com nossa natureza espiritual.

Escrevendo estas linhas, penso na hierarquia das necessidades do Psicólogo americano Abraham Maslow, onde ele coloca as necessidades de sobrevivência como base da pirâmide, sendo pré-requisito para que se alcance as satisfações mais ligadas às emoções, aos sentimentos e às realizações pessoais. Me permita Maslow que eu levante um questionamento, porque, muitas vezes, quando as satisfações básicas são saciadas e são tão prazerosas, podemos ficar tão apegados a elas que não temos motivações para avançar no rumo de satisfações mais sublimadas.

E é aí que os desafios atuais nos têm posicionado: precisando atender às questões de sobrevivência, mas com um nível permanente de frustração que impede de colocarmos o gozo material prevalente sobre outras formas de buscas intelectuais e espirituais.

Quando as tentações do mundo externo perdem o poder atrativo, e não somos mais tão fascinados por elas, ficamos mais predispostos ao olhar interior, às buscas por realizações mais ligadas à nossa essência espiritual, e essas conquistas são que nos trazem a calma para ressignificarmos aquilo que realmente é importante lá fora, aquilo que possa nos fazer felizes.

Não é sem razão que as terapias que envolvam um olhar psicanalítico estão tão em alta no momento. A psicanálise, aliada a outras terapias complementares, traz um olhar para nosso interior, na busca de elaborarmos traços de caráter e sistemas de crenças, pessoais e coletivos que absorvemos, que estejam bloqueando nosso direito à felicidade.

A melhor forma de lidarmos com um problema é compreendendo o sentido dele em nossas vidas. Atribuir sentido às dificuldades coletivas e individuais que estamos passando fará com que elas sejam mais leves de serem superadas. 
João Carvalho Neto 

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