Por conta do meu trabalho, lido no
consultório com os problemas que as pessoas estão passando, mas também,
no dia a dia, posso verificar as queixas de amigos e conhecidos sobre
dificuldades de toda ordem, desde as materiais, problemas físicos, até
as insatisfações com vida. São as questões políticas de nosso país, as
guerras em outros, as novas doenças que surgem, o aumento incontrolável
dos transtornos depressivos, as perdas financeiras, os conflitos
afetivos. Não tenho uma estatística sobre isso, mas a impressão que
trago é de um agravamento dessas angústias, acima do que se consideraria
normal em relação a outros tempos.
Tenho
convicções que me fazem acreditar que somos cuidados por forças maiores
do que nós, e que poderiam estar, de alguma forma, provocando tal
situação com um intuito especial. Mas também acredito na força da
sincronicidade do inconsciente que, somando-se no inconsciente coletivo,
tem o poder de criar realidades em função de nossas necessidades
psicoespirituais.
Contudo,
na verdade, não importa tanto o que possa estar causando tudo isso, mas
a possibilidade de que tudo isso venha a produzir modificações em cada
um de nós que nos facultem um amadurecimento para condições melhores de
vida. E, quando digo condições melhores de vida, não me refiro apenas às
nossas individualidades, mas à coletividade e ao planeta, já que
estamos todos interligados em um sistema formando um campo que todos
alimentam mas que repercute sobre as partes que o compõem.
O
nosso modelo econômico atual, mais preocupado com a produtividade do
que com as individualidades, tem estimulado nossos maiores interesses
para o que está fora de nós, direcionando nossos desejos justamente para
o material de consumo que ele tem por objetivo vender. Isso não
precisaria ser um problema, não fosse a intensidade com que ele – o
sistema – invade nossas mentes, das formas mais sub-reptícias possíveis,
criando um olhar distorcido sobre aquilo que realmente é importante.
Não
que tenhamos que abrir mão de uma vida material que se nos impõe ao
nascermos em um planeta como o nosso, mas de significá-la dentro de um
contexto maior de sermos espíritos reencarnantes.
Então,
o que as dificuldades do presente têm feito é tirar um pouco o fascínio
sobre as demandas externas, sobre prazeres que tendem a nos escravizar
reprimindo a liberdade de gerenciar nossos destinos com objetivos mais
condizentes com nossa natureza espiritual.
Escrevendo
estas linhas, penso na hierarquia das necessidades do Psicólogo
americano Abraham Maslow, onde ele coloca as necessidades de
sobrevivência como base da pirâmide, sendo pré-requisito para que se
alcance as satisfações mais ligadas às emoções, aos sentimentos e às
realizações pessoais. Me permita Maslow que eu levante um
questionamento, porque, muitas vezes, quando as satisfações básicas são
saciadas e são tão prazerosas, podemos ficar tão apegados a elas que não
temos motivações para avançar no rumo de satisfações mais sublimadas.
E
é aí que os desafios atuais nos têm posicionado: precisando atender às
questões de sobrevivência, mas com um nível permanente de frustração que
impede de colocarmos o gozo material prevalente sobre outras formas de
buscas intelectuais e espirituais.
Quando
as tentações do mundo externo perdem o poder atrativo, e não somos mais
tão fascinados por elas, ficamos mais predispostos ao olhar interior,
às buscas por realizações mais ligadas à nossa essência espiritual, e
essas conquistas são que nos trazem a calma para ressignificarmos aquilo
que realmente é importante lá fora, aquilo que possa nos fazer felizes.
Não
é sem razão que as terapias que envolvam um olhar psicanalítico estão
tão em alta no momento. A psicanálise, aliada a outras terapias
complementares, traz um olhar para nosso interior, na busca de
elaborarmos traços de caráter e sistemas de crenças, pessoais e
coletivos que absorvemos, que estejam bloqueando nosso direito à
felicidade.
A
melhor forma de lidarmos com um problema é compreendendo o sentido dele
em nossas vidas. Atribuir sentido às dificuldades coletivas e
individuais que estamos passando fará com que elas sejam mais leves de
serem superadas.
João Carvalho Neto
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