Adeus à academia: Nuno Cobra Jr.
fala sobre a nova filosofia de treinamento que individualiza os exercícios
Nuno Cobra Jr. fala sobre
ativismo corporal
Sessões intensas de treinamento e
dietas cada vez mais radicais e milagrosas: treinar, atualmente, se equivale a
uma forma sofisticada de tortura, principalmente para quem está acima do peso.
Quando vão para o clube, para a academia ou quando participam de grupos de
corrida, essas pessoas não encontram uma atividade física que seja realmente
pensada para eles - são eles que têm que se adaptar às formas de treinamento
recomendadas. “Muitos acabam tentando seguir o que todos fazem, as
recomendações das revistas ou as atividades da moda, à custa de um grande
sofrimento e inadequação”, explica o professor ativista da prática e autor do
livro O Músculo da Alma (R$ 49, Editora Voo), Nuno Cobra Jr. No Brasil, o número
de pessoas que estão acima do peso equivale atualmente a 52.9% da população.
Com a missão de mudar a cultura do treinamento, o professor inaugura uma nova
corrente do pensamento: o ativismo corporal.
Leia a entrevista e saiba mais:
Por que o atual modelo de
treinamento pode representar riscos para o corpo?
Esse modelo de treinamento se
transformou em um formato comercial nas duas últimas décadas; foi ficando cada
vez mais radical. No meu livro, fui pesquisar o relatório anual das associação
que reúne academias do mundo inteiro (IHRSA), e a primeira reclamação que
aparece dos usuários é a falta de resultados rápidos. Então, o que esse modelo
de treinamento faz? Busca acelerar ainda mais os resultados vendendo métodos
muito apelativos e que não é uma realidade possível de entregar. No modelo de
treinamento extenuante, se você sofrer no treinamento quer dizer que esse
treino está surtindo efeito, mas é exatamente o contrario: esta acima do que
seu corpo pode compensar. Se você sente dor, mal estar ou fadiga, você foi além
do seu limite e o resultado é muito mais lento. Treinamentos muito intensos
também provocam um efeito depressor sistema no imunológico, por isso é muito
comum a pessoa treinar e no dia seguinte e ficar resfriada.
Você mencionou que o treinamento
predominante hoje não é inclusivo, não é sustentável e não é humanizado. Por
quê?
É uma cultura predominante
baseada no sofrimento: você tem que sofrer pra ter resultados e essa logica não
é sustentável, não estimula o individuo a fazer exercício porque não é
prazeroso. Quando você vive uma experiência agradável, você quer repeti-la,
quando é desagradável, você evita - mesmo que de forma inconsciente. Não é
inclusivo porque é um modelo arcaico que só serve pra uma elite do treinamento,
aqueles que são super. Sarados e preparados, não serve pra mais de 90% da
população que vai sofrer com o impacto das atividades. Não leva em conta o
individuo em si, mas sim a busca pelos resultados, então deixa de ser
humanizado. O treino exagerado pode gerar problema na coluna, hérnia de
disco... Conversando com fisioterapeutas, descobri que tem crescido o numero de
alunos com um corpo maravilhosos por fora e todo desgastado por dentro, com
dores crônicas, um cenário muito triste.
Qual a maior falha dos atuais
treinamentos feitos em academias?
O treinamento em academia se
transformou em uma área estética onde o foco é ganhar musculo e perder peso no
menor tempo possível, o foco deixou de ser a saúde há muito tempo, e isso é
perigoso. O treinamento do individuo tem que ser com muito cuidado, o método é
ir aumentando a intensidade de forma gradativa pra pessoa não se machucar. O
que a gente defende é que ele seja prazeroso, porque se você tem prazer na
atividade física você já resolveu o maior problema: criar uma rotina. Se você
encontra algo que é confortável e prazeroso pra você fazer no dia a dia, você
vai fazer sempre e sem a pressão por resultados, mas sim por prazer, e é isso
que a gente quer: que você tenha prazer na atividade física.
Como deveria ser feito esse
treino para ser eficiente e benéfico para o corpo?
Teria que ter uma comunicação
entre essas áreas, como fisioterapia, ortopedia, cardiologia pra ter uma visão
mais integral para o treinamento, um modelo que colaborasse na adesão do aluno
através do prazer e ajudasse a combater a obesidade. O corpo é um caminho
potente de autoconhecimento e reconexão, ou seja, existe muita coisa além da
estética. A gente pode pensar a cultura do corpo como a cultura do narcisismo,
onde os indivíduos estão obcecados com ilusões de projeção física e esmagados
pela proliferação de imagens midiáticas e pelo consumismo. E é isso que eu
quero desconstruir, por que esse narcisismos não é positivo, causa uma
insatisfação crônica com a autoimagem e vários distúrbios psíquicos.
O que é o ativismo corporal?
É a maneira como eu acabei me
definindo, porque eu virei um ativista.
A minha missão de vida é conscientizar a população dos ricos desses
treinos e mudar a cultura do treinamento, renovar e reinventar essa pratica. É
uma luta muito complicada, como se eu tivesse nadando contra correnteza já que
o modelo predominante de academia é esse, mas virei uma voz ativista em relação
a consciência corporal, que basicamente é conhecer o seu corpo e pensar em uma
atividade física personalizada para as capacidades dele e que traga prazer. É
uma corrente ainda peque na e discreta, mas que está crescendo.
Quais os benefícios, além do
emagrecimento, que o ativismo corporal pode trazer pra parcela da população que
está acima do peso?
Tem três benefícios bem
interessantes: a atividade física mostra que o corpo é uma maneira genial de
acalmar a mente, é o contraponto perfeito para o estresse. Quando feita de
forma equilibrada, a pratica de exercícios é também muita eficaz no combate à
ansiedade. O exercício de intensidade leve à moderada também provoca a
neurogênese, que é a fabricação de novos neurônios. Perdemos neurônios
constantemente, com estresse, bebida alcoólica, e a atividade física moderada
ou leve e um forma bastante eficaz de fabricar neurônios. É essencial destacar
que a atividade física é também uma forma de autoconhecimento; estimula a
consciência corporal e é uma forma de conexão com você mesmo, de meditação em
movimento.
O Músculo da Alma
Nuno Cobra Jr
Por Letícia Gerola
http://vidasimples.uol.com.br/noticias/horizontes/conheca-o-ativismo-corporal-e-o-que-ele-pode-fazer-pela-sua-saude.phtml#.WJDfNFUrLDd
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